Em Francisco Morato, cemitério do Deus nos acuda
quarta-feira, 2 de maio de 2012Na semana passada, um mês após a morte da manicure Vera Lúcia Marques, de 57 anos, que teve seis filhos, a empregada doméstica Elizabete Catarina Pereira, de 38, desempregada e mãe de sete filhos, finalmente foi visitar o túmulo da mãe, na parte dos pobres do Cemitério Jardim Moratense, na periferia de Francisco Morato, na Grande São Paulo.
Não foi fácil. O acesso à área dos sepultamentos não pagos, ao contrário do local onde ficam os jazigos particulares, vendidos a R$ 2.390 cada um, fica no alto do morro. O acesso é por ladeira de terra, intransitável em dias de chuva. Não há muro. A cerca de arame farpado está arrebentada e qualquer um entra, inclusive os cavalos que volte e meia são vistos pastando em cima das covas.
O caixão com o corpo de dona Vera teve de passar embaixo da cerca para chegar ao local do sepultamento. “Não foi digno”, reclamou Elizabete, que foi ao cemitério conhecer a cova da mãe acompanhada da cunhada Andressa Cardoso de Almeida, de 24, e da filha dela, a pequena Vanessa, de 1.
Covas abertas
Elizabete fica nervosa ao se deparar com um buraco no meio do mato, muito alto. “É uma cova, pelo amor de Deus”, grita ela, com medo de que Andressa, com a filha no colo, caiam lá dentro. O problema é que as covas abertas ficam escondidas pelo mato alto, dificultando a visão de quem procura o caminho no meio do cemitério abandonado.
Covas e cruzes estão encobertas pela vegetação, que em alguns locais esconde até a cintura das pessoas. “Meu Deus, minha mãe não pode estar enterrada aqui”, lamenta Elizabete, enquanto tenta achar o local do sepultamento.
“Foi por aqui, sim”, afirma Andressa, mulher de um ajudante de pedreiro, apontando a direção. Não há alamedas ou como se localizar na ala dos pobres. Além disso, sem dinheiro, a família teve de sepultar dona Vera em cova rasa, sem uma cruz de identificação.
Depois de alguma procura, o local é encontrado. Filha e nora reconhecem as flores em cima da sepultura. Elizabete se emociona.
Agora, quer plantar um broto de dama-da-noite, um pedido da mãe antes de morrer, junto aos restos mortais. Garante que os irmãos vão cercar a cova. “Temos os blocos, falta comprar o cimento.”
Conformadas, as duas mulheres tomam a estrada de terra e voltam para o Jardim Alegria, perto dali, onde moram em casas humildes com outros parentes. A direção do cemitério não quis conceder entrevista.
Fonte: Diário de S. Paulo
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Essa cidade é um “Deus nos acuda”.