Dia 26 de março a cidade de Francisco Morato recebe teatro negro no CSU
terça-feira, 19 de março de 2013Jeferson De é um cineasta referência, especialmente quando se trata da videosfera do negro no Brasil. A realidade ficcional de seus filmes são, na verdade, “documentos”, funcionando como ferramenta na propagação de discussões e debates acerca da negritude no país, em comunidades, centros culturais e na academia.
Formado em Cinema pela ECA-USP, foi bem sucedido no campo do curta metragem – veja-se o estrondo que causou “Carolina”, de 2003, sobre a personalidade e os escritos do mito sócio-literário Carolina Maria de Jesus, prêmio de Melhor Curta Metragem e Crítica no Festival de Gramado daquele ano, e nunca abandonou a causa negra em seus trabalhos.
É com a frase “Faço filmes com amor!” que, em 2005, lança o Manifesto “Dogma Feijoada”, no intuito de apresentar bases e discutir a produção audiovisual realizada por negros no Brasil. O texto gerou o livro “Dogma Feijoada e o Cinema Negro Brasileiro”, com material crítico e compilação de seus roteiros curtos. O nome do Manifesto é um ácido trocadilho com o vídeo-crudismo dinamarquês do “Dogma”, movimento de 1995, liderado por Lars von Trier e Thomas Vinterberg, que, em linhas gerais, pregava o cinema anti-industrial, potencializando a criação e invenção mesmo dentro de um ambiente liderado pela “lógica do padrão da qualidade técnica”.
Em 2010 – sua estreia no longa metragem, o diretor é aclamado no Festival de Gramado, recebendo por “Bróder” os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora e Melhor Ator (para Caio Blat), além de outros prêmios importantes, como os três recebidos no Festival de Cinema de Paulínia, interior do Estado de São Paulo.
Agora, é o teatro na cidade de Francisco Morato que o traz de volta, em sua estreia no mundo do palco.
“Esse projeto marca meu primeiro trabalho em teatro. Eu conhecia o texto do Cuti há muito tempo. Como sou primeiro cineasta, a ideia inicial era que fosse um filme. Por conta de ter outros projetos na “fila de espera” – o caso dos curtas “Narciso Rap” e “Carolina” (ambos de 2003) e do longa “Bróder” (2010) -, a gente tenta seguir um cronograma. A partir desse esquema de produção, percebi que poderia realizar outras coisas entre um filme e outro.”, comenta o diretor.
Eduardo Acaiabe, o ator que conduz o monólogo “Madrugada Me Proteja”, vem do sucesso de dois longas: “Lula, O Filho do Brasil” (2009) e o próprio “Bróder” (2010). “Sinto-me totalmente dentro deste texto. O personagem tem a minha idade, somos urbanos até já passei, mais de uma vez, a situação dele na peça.”, identifica-se.
O texto é do grande escritor e ensaísta Luiz Silva, mais conhecido como Cuti, . O autor formou-se em Letras na Universidade de São Paulo, em 1980, é mestre em Teoria da Literatura e Doutor em Literatura Brasileira pelo Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp. Foi um dos fundadores do “Quilombhoje-Literatura” e da série “Cadernos Negros”, o que o coloca na disputada área dos “pensadores” do “texto nacional”.
A história passa-se numa madrugada de grande cidade, onde um jovem negro acompanha um amigo até sua casa. Em seguida, ele perambula pelas ruas à procura de um táxi, quando surge um assaltante. A partir de então, os dois se debatem numa batalha verbal, onde suas vidas e crenças passam a ser expostas. Do pânico à humilhação, a peça provoca de maneira crua e realista a questão racial brasileira. “Há um conjunto de questionamentos presentes na obra do Cuti e que eu desenvolvo também nos filmes. Isso, de certa forma, une nosso pensamento. Ele ficou feliz pela adaptação, assistiu alguns ensaios e vem me incentivando bastante”, finaliza o diretor.
Fonte: Prefeitura Francisco Morato
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